26 de agosto de 2014

Quem vai se levantar a favor dos cristãos?

Por Ronald S. Lauder, Presidente da World Jewish Congress
Traduzido por Victor H. Michel

Por que o mundo está em silêncio enquanto cristãos estão sendo massacrados no Oriente Médio e na África? Na Europa e nos Estados Unidos temos assistido a manifestações a respeito das trágicas mortes de palestinos que têm sido usados como escudos humanos pelo Hamas, a organização terrorista que controla Gaza. A ONU tem investigado e dirigido sua ira contra Israel por se defender contra a referida organização terrorista. Mas o massacre bárbaro de milhares e mais milhares de cristãos é encarada com relativa indiferença.

O Oriente Médio e partes da África Central estão perdendo comunidades inteiras de cristãos que têm vivido em paz por séculos. O grupo terrorista Boko Haram tem sequestrado e matado centenas de cristãos neste ano – devastando a região predominantemente cristã de Gwosa, no estado de Borno no noroeste da Nigéria, duas semanas atrás. Meio milhão de cristãos árabes têm sido expulsos da Síria dura nte os mais de três anos de guerra civil naquele país. Cristãos estão sendo perseguidos e mortos em regiões do Líbano ao Sudão.

Os historiadores poderão olhar para este período e se admirarem que as pessoas tenham perdido seus referenciais. Alguns poucos repórteres têm viajado ao Iraque para testemunhar a onda  de terror semelhante ao nazismo que varre o país. A ONU tem, na maior parte do tempo, se mantido calada. Neste estranho verão de 2014, os líderes mundiais parece que estão envolvidos com outros assuntos. Nenhuma frota naval se dirige à Síria ou ao Iraque. E as belas celebridades, bem como os envelhecidos astros do rock – por que o massacre de cristãos parece não ativar suas antenas sociais?

O Presidente Obama deve ser elogiado por ter ordenado ataques aéreos visando salvar milhares de yazidis, os quais seguem uma antiga religião e foram abandonados numa montanha no norte do Iraque, onde foram sitiados por militantes muçulmanos sunitas. Infelizmente, apenas ataques aéreos não são suficientes para interromper a grotesca onda de terrorismo.

O Estado Islâmico no Iraque e na Síria (ISIS) não é uma coalisão informal de grupos jidahistas, mas uma força militar real que tem controlado grande parte do Iraque mediante um modelo bem sucedido de negócios que rivaliza com sua estratégia de matar a sangue frio. O E.I. utiliza dinheiro de bancos e de lojas de ouro que capturou, além do controle de recursos provenientes do petróleo  e da extorsão para financiar sua máquina de morte, tornando-o talvez o mais próspero grupo terrorista islâmico do mundo. Mas, onde verdadeiramente se sobressai  é na carnificina, rivalizando com as regias de morte da idade média. O E. I. tem se dirigido implacavelmente contra os xiitas, os curdos e os cristãos.

“Eles realmente tem decapitado crianças e exposto suas cabeças em varas”, disse à CNN o homem de negócios Sírio-americano chamado Mark Arabo, descrevendo a cena que presenciou num parque de Mosul. “Crianças são decapitadas, mães são viokentadas e os pais enforcados”.
Nesta semana, 200.000 arameus fugiram de sua terra ancestral nas proximidades de Nínive,  escapando de Mosul.
A indiferença generalizada em relação ao ISIS, com suas execuções em massa de cristãos e sua preocupação mortal com Israel, não é apenas errada; ela é obscena.

Falando a milhares de cristãos em Budapeste em junho último, fiz uma solene promessa de que não apenas não ficaria calado diante da crescente ameaça do anti-semitismo na Europa e no Oriente Médio, mas que não ficaria indiferente ao sofrimento dos cristãos. Historicamente, quase sempre isso tem sido de outra forma: os judeus frequentemente têm sido a minoria perseguida. Mas Israel tem estado entre os primeiros países a socorrer os cristãos no Sudão do Sul. Os cristãos podem praticar sua religião abertamente em Israel, diferentemente da maioria dos países do Oriente Médio.

Essa união entre judeus e cristãos faz sentido. Nós partilhamos muito mais do que a maioria das religiões. Lemos a mesma bíblia e compartilhamos de um mesmo código moral e ético. Agora, infelizmente, partilhamos a mesma espécie de sofrimento: os cristãos estão morrendo por causa de suas crenças, porque estão indefesos e porque o mundo está indiferente ao seu sofrimento.

As pessoa de bem precisam se unir e interromper essa onda revoltante de violência. E não porque sejamos menos poderosos. Eu escrevo este artigo como cidadão do maior poderio militar da face da terra. Escrevo como um líder judeu que se preocupa com seus irmãos e irmãs cristãos.
O povo judeu sabe muito bem tudo o que pode acontecer quando o mundo fica calado. Essa campanha de matança precisa ser interrompida.

Este artigo foi publicado originalmente no The New York Times do dia 20 de agosto de 2014

19 de agosto de 2014

Amigo, não estou sendo injusto com você!

Pr. Victor Hugo Michel

A sensação de estar sofrendo alguma forma de injustiça é das mais difíceis de lidar. Temos sido condicionados a conhecer e defender nossos direitos. Uma infinidade de leis e regras tenta garantir que nossos direitos sejam respeitados e, quando não o são, a justiça sempre oferece seus infindáveis recursos aos quais podemos recorrer. Mesmo assim, cotidianamente ocorrem situações em que acabamos nos sentindo enganados e, o que é pior, impotentes diante da injustiça – seja ela aparente ou real.

A Bíblia ensina a virtude da mansidão. Apresenta-a como parte do fruto do Espírito (Gl 5.23), destaca Moisés como o homem mais manso que já viveu na terra (Nm 12.3), promete que os mansos herdarão a terra (Sl 37.11 com Mt 5.5). Jesus nos convida a entrar em jugo com ele, garantindo que iremos aprender dele a sermos mansos e humildes de coração (Mt 11.28-30) o que nos dará descanso – mesmo diante de injustiças aparentes ou reais. É porque mansidão significa a renúncia aos direitos pessoais. Ora, se renuncio aos meus direitos já não preciso me atormentar com a sensação de estar sendo injustiçado.

Na vida de Jesus a mansidão se manifestou no fato de que, quando sofria injustiça, Ele entregar-se “àquele que julga com justiça” (leia 1 Pedro 2.23). Deus é completa e absolutamente justo. Ele não diferencia as pessoas, sendo mais favorável a uns do que a outros. Acima de tudo, Deus é fiel à Sua própria Palavra: o que Ele promete, Ele cumpre.

Por isso, quando Jesus conta a parábola dos trabalhadores na vinha (Mt 20. 1 e ss.) como uma ilustração de como são as coisas no Reino dos céus, destaca o fato de que Deus cumpre exatamente aquilo que promete. Não precisamos nos preocupar de que outros possam ser mais “abençoados” do que nós, como se Deus estivesse cometendo uma injustiça. Na parábola, quando alguns trabalhadores contratados questionaram o valor que estavam recebendo por seu serviço, o senhor da vinha lhes afirma: “Amigo, não estou sendo injusto com você” (Mt 20.13). Deus nunca comete injustiças.

É por isso que podemos ser mansos: ao entregarmos a Ele os nossos direitos, Ele mesmo cuidará das injustiças que viermos a sofrer. Esta talvez seja uma das motivações mais fortes para nos dedicarmos com devoção à missão que o Senhor tem para nós. Afinal, Ele garante em sua Palavra que “...no Senhor, o nosso trabalho não será inútil” (1 Co 15.58) e que Ele mesmo “...recompensa aqueles que o buscam” (Hb 11.6). Então, ao trabalho!